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A tragédia dos migrantes e o sombrio futuro da Europa

Menino sírio carrega irmão menor em direção à fronteira da Macedônia com a Grécia. Tragédia humanitária gravíssima

Menino sírio carrega irmão menor em direção à fronteira da Macedônia com a Grécia. Tragédia humanitária gravíssima

A presente tragédia europeia começa na semântica. Quem são estes milhões de pessoas que procuram a Europa, saindo de países devastados por guerras civis, muitas vezes provocadas ou ajudadas pela intervenção das potências ocidentais?

Um coro desencontrado de palavras responde a questão: “refugiados”, “asilados”, “fugitivos”, “clandestinos”, “migrantes”, “imigrantes”, “emigrantes”, “invasores”, às quais poderia se ajuntar a expressão “párias do Velho Mundo”.

O desencontro prossegue nas reações dos governantes da União Europeia, variada e conflitante. Angela Merkel e François Hollande defendem o estabelecimento de quotas entre os países do bloco para receber esta vaga humana, descrita como a maior migração no continente desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

David Cameron, no Reino Unido, até esta sexta-feira refugiava-se numa recusa velada a aumentar a quota de refugiados em seu país. Espera-se nesta sexta-feira uma declaração sua, mais amena e aberta, depois que ele declarou-se “comovido, como pai,” diante da foto do menino sírio morto numa praia da Turquia.

Numa cruzada ao contrário, o dirigente húngaro Viktor Orban, conhecido por suas posições intolerantes diante dos roma (ciganos), junto com os governantes da Polônia e da Eslovaquia, ergue-se em defesa da “Europa cristã”. Numa declaração tão preconceituosa quanto desastrada, afirmam os três que “só aceitarão imigrantes cristãos”, o que aponta insofismavelmente para a ideia de que os judeus e muçulmanos, por exemplo, também estariam excluídos.

Os dramas e as tragédias se sucedem. Migrantes, refugiados ou o que seja se concentram em Calais, na França, tentando atravessar o euro-túnel até a Grã-Bretanha. Um caminhão com 71 cadáveres de presumivelmente sírios é encontrado na Áustria, abandonado à beira de uma estrada. Só nesta semana outros 250 cadáveres coalharam no Mediterrâneo. Em Budapeste alguns milhares de refugiados se amontoam em frente à estação central da cidade. Outros tantos embarcaram num trem pensando que iam para a Áustria e depois para a Alemanha. O trem foi detido pela policiai na cidade de Bicske, poucos quilômetros adiante, e os policiais começaram a tentar remover os fugitivos para um campo (de concentração?). Parte dos ocupantes do trem estão resistindo `a remoção, sem água nem comida. Detalhe um tanto sórdido: muitos deles compraram passagens na estação de Budapeste. E agora?

Na Alemanha, país que tem-se mostrado mais aberto a receber os refugiados, há controvérsias. Grande parte da população dá mostras de generosidade, recebendo generosamente os refugiados, organizando campanhas de doação de roupas, comida, dinheiro para ajudá-los. Mas na calada da noite grupos de neonazistas incendeiam os abrigos previstos para eles. No último caso, na noite de quinta (3) para sexta-feira, houve num ferido grave, numa cidade perto de Mannheim, no sudoeste do país, que tentou fugir do incêndio pulando de uma janela do primeiro andar. O número dos incêndios criminosos neste ano já chegou perto de 200, além de outros atentados a faca e até com gás pimenta.

Os números são impressionantes. Desde 2011, em cifras redondas, houve 550 mil pedidos de asilo na Alemanha, 250 mil na França, 230 mil na Suécia, 200 mil na Turquia, 150 mil na Itália e 130 mil na Hungria. Mas outros números são maiores ainda. Há quase 2 milhões de refugiados sírios na Turquia. Outros milhares estão na Jordânia, no Líbano, ou outros países vizinhos.

Analistas sublinham o fato de que esta é a terceira grande crise que a União Europeia (UE)enfrenta desde sua fundação. A primeira foi a crise financeira e do euro, que perdura e está deixando em ruínas, em grande parte, o tecido de proteção social que caracterizou a história do continente depois da Segunda Guerra Mundial. As soluções postas em prática contribuíram para agravar os problemas econômicos e sociais. Agora, nesta área, a incerteza cresce diante da desaceleração da economia chinesa.

A segunda crise foi a provocada pela guerra civil na Ucrânia. Na esteira desta crise as relações da UE com a Rússia ficaram abaladas, o que provocou uma queda nas exportações para aquele país, com efeitos danosos na economia.

Agora se avoluma esta terceira crise, a do novo êxodo do século 21. Na esteira desta crise se avoluma outra, de natureza política, que é a do crescimento dos movimentos de extrema-direita em todo o continente, com o combustível, tão volátil quanto perigoso, do preconceito contra os imigrantes, em nome dos “valores europeus”, cuja face mais grotesca apareceu agora com a defesa do “cristianismo” feita por Orban & cia.

Que Europa emergirá destas crises? Não dá para prever ainda. A tela em frente – a do futuro – se cobre de dúvidas. Uma coisa é certa: a “Nova Europa” será muito diferente da “Velha”, e talvez mesmo mais “Velha”, devido à regressão político-social por que está passando.

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